Integrantes do grupo de WhatsApp - Bons Tempos da Infância
Vista central da cidade de Buriti/MA - Praça Felinto Faria
Bons Tempos da Infância
Por Reginaldo Veríssimo
I – Os
A t o r e s
Não
imaginou Heródoto[1]
Sua
ciência no WhatsApp
Desafiando
a era digital
Do
resultado de um backup[2]
De
um coletivo de amigos
Colacionados
os scraps[3]
A
tecnologia do smartphone
Colocou
no taxo do caldeirão
Uns nascidos na década de 60
Daquela
bela Buriti de então
Da
adolescência a juventude
O que se
passou nesse torrão
Mostram
alegria da saudade
Algumas
travessuras tolas
Outras
nem tanto assim
Lá no
Beco Quebra Rola[4]
Condutas
bem inocentes
Não
envolvendo a ceroula
Do
Riacho Tubi e do Morro[5]
De tudo
aqui se deu conta
Das
pessoas de cabeça boa
Como os
de cabeça tonta
As
músicas daquela época
Ecos
que a história aponta
II – Ruas e calçadas
Protagonistas
e coadjuvantes
Misturados
ali nas calçadas
O
menino grita Gordin Rubu[6]
Caso
não corra leva pauladas
Nonato
Doido[7]
só resmunga
Da
Lazarina[8]
saem pedradas
Machado,
Dutra e Osvaldo[9]
Tinham
carros e bons choferes
Adonias,
Lautenay, Zuzu e Ota[10]
Não
deixavam os patrões a pés
Para
a garotada mais uma festa
Nas
carrocerias e nas boléias
Tempos
da Boate Tuniquim
Do Cine
Teatro e da União
Do
Colégio Antonio Faria[11]
Da
famosa Neném Gavião
Auge do
Suvaco da Jumenta
Depois
a Tuíca do Formigão[12]
Nonato
e Seu Conjunto reina
The Beatles
a música mundial
No
Brasil os Trepidant’s
Com a
música internacional
Em
Buriti a Joana Ferreira[13]
O
grande sucesso regional
III – Aspectos Culturais
São
Sebastião abre a agenda[14]
O
Mocambinho vai festejar
Zeba na
sanfona rasga o fole
O
Faquinha faz o sax falar
Aguardam
Otávio e Mundicão
A
moçada no salão a bailar
A festa
pagã está próxima
Exaltar
Dionísio[15] é
carnaval
Elza
Machado está pronta
É quem
organiza o vesperal[16]
Maria
Paulino e os foquitos[17]
Rosa
Onorata não tem igual
As
festas juninas se irrompem
Se ouve
o urro do boi bumbá
As
quadrilhas formam fileiras
No
Antonio Faria pra entrar
Nas
barracas comidas típicas
O
tambor de crioula a latejar
Julho
16 o mastro se levanta
Santana
desce do seu altar
Fervilha
gente de todo canto
Exilados
pra Santa abençoar
A
cidade vibra em comunhão
A
procissão de gente um mar
IV – Os e n g e n h o s
Da
mitologia para a realidade
São as
informações que tenho
Das
margens do Riacho Tubi
De
Inácia Vaz foi o empenho
Cachaça,
açúcar e rapadura
Buriti
nasce com os engenhos
História
de construção remota
Movida
pelas forças dos bois
A cana
moída corria em bica
Na
moenda os animais em dois
Do
carro[18]
saía estranha cantiga
À mesa
feijão, carne e arroz
Engenhos
desses assim jamais
Do
Santim com bica de frandres
Mestre
Miguel dentro da cidade
No
Cajueiro o do seu Alexandre
Na
Vargem o do Jorge Paulo
Fernandão[19]
no Riacho Grande
Tinha
tijolo, mel, garapa e puxa
Se
amigo, não pagava um franco
Eram
verdadeiras casas de doces
A
birita repousava noutro flanco
Um
destilado especial da terra
Viva a
tiquira[20]
do Barro Branco
V – O b a b a ç u
O
babaçu a moeda de trocas
Da
carne de boi a galinha
No
mercado fila e gancho[21]
O
magarefe Raimundo Aninha[22]
De
Machado, Osvaldo a Aidil
A
primeira para ali não vinha[23]
O coco
um grande produto
Na
balança de Delinho pesado
No
armazém da Loja Faria[24]
Os
tecidos de Chico Machado
A
farmácia e usina do Farides
O Dilmo
Cunha logo ao lado
Na
cidade não havia banco
Só da
praça pra mulherada
No Bar
do Aidil tinha tudo
Raimundo
Inês na bancada
Onde
tomei com tio Gerson
A
primeira jeneve gelada
A
quitanda do João Biné
Braga e
Raimundo Clemente
Marco
Jorge, Inácio Mano e
Abraão
frente com frente
Para
tomar banho na piscina
Era a
passagem da gente
O b a b a ç u
A Zona
Rural bem expressiva
Uma
venda em cada esquina
Mocambinho
um entreposto
O
piloto do carro o Gasolina[25]
Cobria
território dos Almeida
Cortando
areiais e lama fina
Rasgando
mato pelo interior
A
estrada no verão era um pó
Inxu,
Jaboti, Brejão dos Dutra
Bom
Jesus escala do Pericó[26]
Entra
mercadoria sai babaçu
No inverno um lameiro só
Santa
Cruz do doutor Durval
Conceição
e Currais dos Roldão
Do Pé
da Ladeira a Barra Nova
Seguiam
as trilhas do caminhão
Assim
se fez o comércio local
Nas
marcas e cicatrizes no chão
A roça
um instituto presente
Produzindo
o insumo rural
Feijão,
mandioca e o milho
Em todo
fazenda um curral
O Arroz
que não ia no carro
Seguia
por lombo de animal
V – A p o l í t i c a
O
país mergulhado na ditadura[27]
Nos
cofres o milagre brasileiro[28]
Buriti
segue de ouvidos moucos[29]
Osvaldo
político e fazendeiro
Benedito
Machado bem sagaz
Revelou-se
hábil marqueteiro
Espalhou
nos quatro cantos
José
Freire o locutor oficial
Que a
cidade sairia do atraso
Construiria
grande hospital
Traria
televisão e telefone
Faria
revolução sem igual
O
eleitor comprou a ideia
Iniciou
uma luta mordaz
Buriti
é daqui para frente
Não
pode andar para trás
Faltam
estradas no lugar
Eis uma
promessa a mais
Assim
foram para as urnas
Ficou
gravado na memória
Osvaldo
Faria foi derrotado
Coube a
Benedito a vitória
Ficou
marcada essa eleição
Registra
os anais da história[30]
Antero
Linhares o pioneiro
Os seus
carros aos pedaços
Pra São
Luís foi o primeiro
Era um
ônibus todo nojento
Só com
reza chegava inteiro
No
início mistos jardineiras
A Zuca
Lopes em seguida
Nasce a
linha para Teresina
O
viajante teve outra vida
Mesmo
com poeira e lama
Havia o
retorno certo da ida
A rede
hoteleira incipiente
Um
suporte a quem passa
Primeiro
a Rosa Onorata
Depois
a Orminda na praça
Rota
dos padres José e Júlio
Ali na
Igreja erguiam a taça
Neuza e
Antonia Queiroz
Das
costuras aos bordados
Benedito
Izidoro e Vespa
Nos
cortes eram versados
Manoelzin,
Nini e Suzana
Todos
eram emoldurados[31]
VII – O f u t e b o l
Final
da década de sessenta
Ficou impresso
na memória
Com
critério e boa técnica
Buriti
no futebol fez história
O palco
já era o Dilmo Cunha
Frágeis
talos[32]
e fortes vitórias
Foram
grandes e belas façanhas
Pôs o
futebol de Buriti em alta
Os
protagonistas dessas pautas
Doutor
Ari[35]
também treinava
Exímio
nas cobranças de faltas
Os
Clubes Juventus e Spártacus
Rivalizavam
a festa e o sucesso
Bancados
pelos contribuintes
E pela
renda dos ingressos
Vitorino
tratava as chuteiras
Os gols
as formas de acessos
Os bons
jogadores davam show
Manoel
Ferreira um talento
B.
O., Chico Rego e Zé Faustino
Os
gols eram chamados de tentos
Ferreira
levanta na grande área
Mazola
com jeito bota pra dentro
O f u t e b o l
Era
mesmo um bonito espetáculo
Cada
jogo uma festa, um evento
Chapadinha,
Brejo e Anapurus
Fregueses
assim como São Bento
Certa
vez Deusaniro, Prado e Dim
O
Spártacus fez 8x1 no Juventus
O
Novo Horizonte[36]
tudo registra
Dr.
Manoel fez trabalho magistral
A
história da sociedade buritiense
Esta
tudo escrito naquele jornal
O
Bandeirante[37] ajuda
nessa saga
FUTEBOL,
poesia, lazer e carnaval
Antonio
Dutra da cidade o prefeito
Homem
de fino trato e hospitaleiro
Dos
jogos de futebol um admirador
Só
não se podia contar com dinheiro
A
prefeitura um saco de pobrezas
Não
tinha nem para pagar o goleiro
Esses
são os registros históricos
O
retrato do que se fez por aqui
Falou-se
de economia ao futebol
Do
delicioso arroz com pequi
E
Reginaldo Veríssimo adverte
WhatsApp
faz cultura em Buriti
[1] Heródoto é considerado o pai da
História.
[2] Cópia de arquivos digitais para
evitar extravio.
[3] Fragmentos, pedaços de arquivos que
juntados podem formar um todo ideal.
[4] Nome folclórico dado à Travessa Santo
Antonio, aberta provavelmente na administração do prefeito Bernardo Almeida, começa
em frente a antiga casa do senhor Edson Coimbra do IBGE, hoje residência do
senhor Ananias Inês, como na época não havia iluminação, os jovens aproveitavam
para namorar.
[5] Referência aos balneários naturais
utilizados pela municipalidade.
[6] Um a figura interessante que apesar
do apelido era gente boa, mas não tolerava o cognome, portador de epilepsia as
vezes caia na rua, andava sempre com cacete a mão para aplicar em que o
perturbasse, corria para cima mesmo, muitos foram vítimas deste instrumento,
inclusive um tio meu.
[7] Um cavaleiro andante que perambulava
pelas ruas da cidade de Buriti, de prenome Nonato, sofria de esquizofrenia, mas
não fazia mal a ninguém, pedia comida as pessoas, era cliente assíduo do senhor
Dilmo Cunha, todo dia às 11 horas, se apresentava na janela com uma lata velha
de goiabada como prato.
[8] Assim como Nonato Doido, apelidada Lazarina
também era esquizofrênica e jogava pedra mesmo, resmungava e tudo, de pele
escura, mas nas palavras do poeta buritiense Lili Lago, ela se dizia branca.
[9] Personalidades da cidade, eram grandes
comerciantes, fazendeiros e políticos, como Bernardo Almeida.
[10] Grandes motoristas, os pioneiros, os
melhores que o Buriti já teve.
[11] Estabelecimentos que foram palcos de
festas e de eventos imemoriais.
[12] Antigos Cabarés da cidade nominados
com suas respectivas proprietárias no auge de suas funções.
[13] Proprietária por muitos anos do
conjunto musical de mesmo nome, que fez muito sucesso na região.
[14] Santo Padroeiro do Povoado
Mocambinho, festa que tem seu ápice no dia vinte de janeiro.
[15] Na mitologia grega, Dionísio é o deus
do vinho, é também associado às festas e atividades relacionadas ao prazer
material.
[16] Bailes carnavalescos organizados na
parte da tarde.
[17] Pequenas lâmpadas alimentadas por
pilhas que Maria Paulino, uma foliã muito animada utilizava na ornamentação das
suas fantasias carnavalescas, ela ainda está vivinha da Silva.
[18] Trata-se de antigos veículos de
madeira movidos a bois, denominados de carro de bois que serviam principalmente
para transportar a cana-de-açúcar do canavial para a casa do engenho, onde a
cana era beneficiada, moída e transformada em garapa, em seguida em rapadura,
açúcar mascavo, batida, puxa, tijolo (rapadura temperada), mel, bem como, a
famosa cachaça. Os carros de bois quando carregados, o atrito do eixo com o
cocão (suporte que segura o eixo) produzia um rangido ensurdecedor, muitas
vezes cultivado com óleo pelo carreiro (o comandante da composição), daí o
barulho soava como música para os ouvidos dos passantes.
[19] Todas essas personalidades citadas como
o senhor Fernandão, eram no passado proprietários de estabelecimentos
denominadas cassas de engenho, com moendas e os velhos carros de bois, movidos
a tração animal, produzindo os mesmos insumos que fornece a cana-de-açúcar até hoje.
[20] Famoso destilado de cor azulada
devido ao tingimento com folhas de tangerina, originário do beneficiamento artesanal
da mandioca, há muito tempo produzido na região, mas reconhecida como a de
melhor qualidade a fabricada na localidade Barro Branco, município de Buriti.
[21] Instrumento utilizado pelas pessoas
para portar a carne inatura comprada no antigo mercado, depois de enfrentar e
disputar muito cedo da manhã uma fila interminável. Se adolescente entrava na
bisca (tapa com a mão aberta obrigatoriamente na cabeça).
[22] Famoso magarefe da época que fazia
parceria com Zé Biluca e outros.
[23] Grandes comerciantes com moradias
próximo ao mercado encomendavam as melhores peças de carne, que em geral eram
amigos pessoais dos magarefes. O Caneco o encarregado de entregar.
[24] Osvaldo Faria o maior comprador de
babaçu, o mais importante produto do momento, essa função estava a cargo do
senhor Delinho em um dos seus armazéns, em frente a Praça da Matriz.
[25] Gasolina é o apelido do motorista, um
dos filhos mais velho do senhor Raimundo Suzana.
[26] Por muito tempo Pericó comprou babaçu
em todo o município de Buriti para abastecer as usinas de fabricação de óleo
babaçu no Maranhão e Piauí, e em contrapartida fornecia mercadorias para os
comerciantes da região, era mais que um negociante, um amigo leal.
[27] Regime ditatorial instaurado no país
por meio de um Golpe Militar ocorrido em primeiro de abril de 1964, por esta
data ser conhecida como o dia da mentira, os protagonistas do evento puxaram
para 31 de março.
[28] Denominação dada à época de crescimento
econômico vigorado durante o Regime Militar no Brasil, entre 1969 e 1973,
também conhecido como "anos de chumbo", fase de endurecimento do
regime.
[29] Buriti não acompanha o que acontecia
no país, com razão, pois padecia de isolamento sumário.
[30] Eleição municipal ocorrida em 1973
para o quadriênio 74 – 77, escrutínio marcado por uma grande disputa, em que
Benedito Machado representava o novo e Osvaldo Faria o velho, rivalidade
chegada ao extremo com xingamentos perseguições e tudo mais, uma super-humilhação
para a chapa derrotada.
[31] Expressão que aqui quer dizer sobre
os serviços de costuras, as primeiras na nomenclatura da época eram moldistas,
costureiras e havia outras, os segundos alfaiates só confeccionavam roupas para
homens, aí também se incluía o Raimundo Suzana, amante do futebol famoso no
grito de errou, errooou, errooooooou, quando a penalidade máxima era cobrado contra o seu time, como o
velho Tiago da Mazé Sousa.
[32] A vedação do muro do campo de futebol
era construída em talos de coco babaçu, mais conhecida como cerca de faxina, o
palco já tinha nome, Dilmo Cunha em homenagem ao grande futebolista da época, o
comerciante de mesmo nome, a sugestão do nome do estádio foi do jogador Chico
Rêgo.
[33] Juiz de direito Manoel Matos, homem
dinâmico apreciador de futebol e das letras, na época servindo em Buriti, atuou
como técnico organizando o futebol nos clubes Spártacus e Juventus, na educação
municipal, e ainda editou o jornalzinho Novo Horizonte.
[34] Desportista buritiense muito
respeitado, atuou por longo tempo no futebol buritiense como jogador e
dirigente de clubes, professor de Educação Física, entre outras.
[35] Promotor de justiça à época servindo
em Buriti, um amante do futebol. Apesar da função um amigo.
[36] Um jornalzinho impresso em papel ofício
(duas páginas grampeadas), rodado em mimeógrafo, redigido por Doutor Manoel
Matos (Juiz de Direito), com a colaboração da juventude buritiense da época,
circulou aproximadamente por 3 anos, de 1967 a 1969.
[37] Jornal que substitui o Novo
Horizonte, com o mesmo conteúdo, inclusive com os mesmos redatores.
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