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terça-feira, 21 de agosto de 2018

A LEITOADA DOS FILHOS E AMIGOS DE BURITI

A leitoada foi uma festa e tanto, digna de aplausos de pé e demorados, citação esta apreciada pelo conterrâneo José Deusaniro de Faria Freitas Júnior, o Deusanirinho, uma espécie de reverência que ele faz quando algo lhe agrada.  Festa jamais vista por estas bandas, ganhou corpo em torno da polêmica relativa ao sumiço de uma leitoa, iniciada quando o animal estava a ganhar peso em um chiqueiro de conhecidos, de onde desapareceu, e que seria sacrificada numa festa de amigos, por ocasião dos festejos de Nossa Senhora Santana em Buriti de Inácia Vaz, ou só mesmo Buriti, nome oficial da cidade.

Em razão da grande dimensão deste fato que ganhara as redes sociais, principalmente na plataforma digital do aplicativo batizado por WhatsAAp, mensageiro mais popular do país, o que seria um encontro de gatos pingados, transformou-se numa grande festa chique, regada a uma culinária típica das terras de Inácia Vaz, diversificada e farta, teve leitoa assada e guisada, panelada, feijoada, galinha caipira, churrasco, arroz branco, de pequi e baralhado, cerveja, refrigerantes, principalmente o Jesus, música ao vivo[i], ideia materializada por Odilene, e outras coisitas mais, como a distribuição do brinde do chaveiro da leitoa, inclusive poesia[ii] fechando o cardápio.

Agendada com antecedência para o dia 23 de julho, auge das comemorações católicas da city, em função da padroeira local, momento em que a maioria dos buritienses forasteiros pudessem estar presentes, o furdunço realizar-se-ia no Bar do Careca, figura que ficou conhecida neste episódio como um dos fiadores da abdução da leitoa, mas o grande rega-bofe mesmo terminou por acontecer na bela e aconchegante chácara da professora Valdilene, que além de ceder o espaço também, literalmente, meteu a mão na massa, com a disposição que lhe é inerente.

E por ironia do destino ou mesmo para livrar-se das indiretas, o Careca vendeu o bar, e segundo ele próprio, o comprador exigiu as chaves no exato no dia da festança. Mas nem assim o esperto vendedor se livrou das acusações as quais temia, como é amicíssimo do Odair do Faquinha, o dono da leitoa da confusão, não teve como recusar o convite do dileto primo, pois passou a festa inteira sendo achincalhado pelos colegas, mas é claro por pura diversão. Outro implicado no convescote clandestino, o Maspim, não se importava com as pilheras[iii] a ele dirigidas, presente desde o início, ao contrário de David, seu filho, que sequer compareceu.

O evento ganhou volume, comando e organização a partir dos integrantes do núcleo do coletivo do WhatsApp, denominado Filhos e Amigos de Buriti, citado alhures. Convidados os familiares e a quem mais se dispusesse a marcar presença. A galera compareceu em peso. Os originários do grupo, felizes, vestiam camisas comemorativas e tudo. Deusanirinho, um dos pais do evento, das suas listas de serviços, vieram as contribuições, os pratos típicos, disso nasceu poesia de cordel que virou banner, por ele mesmo interpretada, muita comida, bebida, musica, conversa amiga e diversão, teve até a loção do Armando[iv] e Renardo Almeida no violão.

Confraternização, celebração de amizades, convívio mesmo que por efêmeros instantes, são os reais e verdadeiros motivos de uma festa como essa. O factoide da leitoa do Odair, nesse aspecto, cumpriu a função social de ponte, de caminho, de interligação, um acesso, um atalho para uma motivação maior, qual seja, a gratificante interação transmutada das telas digitais dos smartphones em forma de mensagens de áudio ou de dados, que mais isolam do que incluem, para o corpo a corpo, para o ao vivo, para o tete a tete, proporcionando muitos significados, aromas, paladares, audições, visões e quem sabe toques já esquecidos que só ali puderam ser rejuvenescidos, é a incessante busca pelo enigma.
A leitoada mesmo com a mudança de local de última hora, não deixou nada a desejar, o sítio da Valdilene nos proporcionou ambientação saudável, todos puderam exercer suas performances individuais e coletivas como bem lhe aprouvesse, sem constrangimentos, seja no prato com a leitoa assada ou cozida, na mesa de conversas, dançando com seus pares, ouvindo músicas bacanas, poesia de cordel, discursos de agradecimentos, roteiro para novos encontros e cerveja gelada, item que deve sofrer adaptações. No mais foi um golaço. Parabéns a todos os filhos e amigos de Buriti, direta e indiretamente, envolvidos na organização dessa belíssima festa. Que venham outras e outras mais.


[i] A música da leitoada esteve a cargo da banda H3 de Coelho Neto.
[ii] O cordel que relata os fatos sobre o sumiço da leitoa do Odair, é intitulado de “A abdução de uma leitoa a la Buriti”, de autoria de Reginaldo Veríssimo.
[iii] Coisa que se diz com o intuito de ser engraçado; graça, piada: não havia quem não fizesse uma pilhéria sobre a situação da leitoa abduzida.
[iv] Trata-se de uma infusão malcheirosa que o Armando Machado costuma lambuzar invariavelmente o pescoço dos presentes, nas festas que participa.
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