A leitoada foi uma
festa e tanto, digna de aplausos de pé e demorados, citação esta apreciada pelo
conterrâneo José Deusaniro de Faria Freitas Júnior, o Deusanirinho, uma espécie
de reverência que ele faz quando algo lhe agrada. Festa jamais vista por estas bandas, ganhou
corpo em torno da polêmica relativa ao sumiço de uma leitoa, iniciada quando o
animal estava a ganhar peso em um chiqueiro de conhecidos, de onde desapareceu,
e que seria sacrificada numa festa de amigos, por ocasião dos festejos de Nossa
Senhora Santana em Buriti de Inácia Vaz, ou só mesmo Buriti, nome oficial da cidade.
Em razão da grande dimensão deste fato
que ganhara as redes sociais, principalmente na plataforma digital do aplicativo
batizado por WhatsAAp, mensageiro mais popular do país, o que seria um encontro
de gatos pingados, transformou-se numa grande festa chique, regada a uma culinária
típica das terras de Inácia Vaz, diversificada e farta, teve leitoa assada e
guisada, panelada, feijoada, galinha caipira, churrasco, arroz branco, de pequi
e baralhado, cerveja, refrigerantes, principalmente o Jesus, música ao vivo[i],
ideia materializada por Odilene, e outras coisitas mais, como a distribuição do
brinde do chaveiro da leitoa, inclusive poesia[ii] fechando
o cardápio.
Agendada com antecedência para o dia 23
de julho, auge das comemorações católicas da city, em função da padroeira
local, momento em que a maioria dos buritienses forasteiros pudessem estar
presentes, o furdunço realizar-se-ia no Bar do Careca, figura que ficou
conhecida neste episódio como um dos fiadores da abdução da leitoa, mas o
grande rega-bofe mesmo terminou por acontecer na bela e aconchegante chácara da
professora Valdilene, que além de ceder o espaço também, literalmente, meteu a
mão na massa, com a disposição que lhe é inerente.
E por ironia do destino ou mesmo para livrar-se
das indiretas, o Careca vendeu o bar, e segundo ele próprio, o comprador exigiu
as chaves no exato no dia da festança. Mas nem assim o esperto vendedor se
livrou das acusações as quais temia, como é amicíssimo do Odair do Faquinha, o dono
da leitoa da confusão, não teve como recusar o convite do dileto primo, pois
passou a festa inteira sendo achincalhado pelos colegas, mas é claro por pura
diversão. Outro implicado no convescote clandestino, o Maspim, não se importava
com as pilheras[iii]
a ele dirigidas, presente desde o início, ao contrário de David, seu filho, que
sequer compareceu.
O evento ganhou volume,
comando e organização a partir dos integrantes do núcleo do coletivo do
WhatsApp, denominado Filhos e Amigos de Buriti, citado alhures. Convidados os
familiares e a quem mais se dispusesse a marcar presença. A galera compareceu
em peso. Os originários do grupo, felizes, vestiam camisas comemorativas e tudo.
Deusanirinho, um dos pais do evento, das suas listas de serviços, vieram as
contribuições, os pratos típicos, disso nasceu poesia de cordel que virou
banner, por ele mesmo interpretada, muita comida, bebida, musica, conversa
amiga e diversão, teve até a loção do Armando[iv] e
Renardo Almeida no violão.
Confraternização, celebração de
amizades, convívio mesmo que por efêmeros instantes, são os reais e verdadeiros
motivos de uma festa como essa. O factoide da leitoa do Odair, nesse aspecto, cumpriu
a função social de ponte, de caminho, de interligação, um acesso, um atalho para
uma motivação maior, qual seja, a gratificante interação transmutada das telas
digitais dos smartphones em forma de mensagens de áudio ou de dados, que mais
isolam do que incluem, para o corpo a corpo, para o ao vivo, para o tete a
tete, proporcionando muitos significados, aromas, paladares, audições, visões e
quem sabe toques já esquecidos que só ali puderam ser rejuvenescidos, é a
incessante busca pelo enigma.
A leitoada mesmo com a mudança de local
de última hora, não deixou nada a desejar, o sítio da Valdilene nos
proporcionou ambientação saudável, todos puderam exercer suas performances
individuais e coletivas como bem lhe aprouvesse, sem constrangimentos, seja no
prato com a leitoa assada ou cozida, na mesa de conversas, dançando com seus
pares, ouvindo músicas bacanas, poesia de cordel, discursos de agradecimentos, roteiro
para novos encontros e cerveja gelada, item que deve sofrer adaptações. No mais
foi um golaço. Parabéns a todos os filhos e amigos de Buriti, direta e
indiretamente, envolvidos na organização dessa belíssima festa. Que venham
outras e outras mais.
[i] A música da leitoada esteve a
cargo da banda H3 de Coelho Neto.
[ii] O cordel que relata os fatos
sobre o sumiço da leitoa do Odair, é intitulado de “A abdução de uma leitoa a la Buriti”, de autoria de Reginaldo
Veríssimo.
[iii] Coisa que se diz com o intuito de ser engraçado; graça,
piada: não havia quem não fizesse uma pilhéria sobre a situação da leitoa
abduzida.
[iv]
Trata-se de uma infusão malcheirosa que o Armando Machado costuma lambuzar invariavelmente
o pescoço dos presentes, nas festas que participa.