Cunha, Gilmar e Renan
Para
entender o comportamento dos atuais presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do
senado, Renan Calheiros, há que se considerar a Lava Jato.
Ambos
representam duas faces complementares do que de pior a política brasileira
produziu. Desde os tempos de PC Farias, Cunha se meteu em um sem-número
de aventuras polêmicas e, na Câmara, se consagrou como representante de altos
(e nem sempre transparentes) interesses econômicos.
Seu
estilo é se aproximar dos centros de poder e negociar. Nos tempos de presidente
da Telerj, negociou com a Globo assegurando espaço para o cabeamento da Globo
Cabo; prometeu Lista Telefônica para a Editora Abril; tentou enfiar na Telerj
os equipamentos da NEC, controlada pelos Marinhos.
Ajudou
a Associação dos Juízes Federais (Ajufe) do Rio, intermediando seus interesses
junto ao governador Sérgio Cabral. Montou lobby em favor de empresas com
interesses na Lei dos Portos. E, segundo acusações do Ministério Público
Federal, valeu-se de uma companheira de bancada para aprovar medidas que
pressionavam uma empresa que se recusava a pagar propinas.
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Já
Renan pertence à estirpe nordestina de José Sarney. Batalha por colocar
apaniguados em estatais e outros cargos públicos. Mas, até a Lava Jato, cumpria
um papel estabilizador, quase de avalista do presidencialismo de coalizão.
Ambos
– ele e Sarney – tiveram papel relevante na manutenção da governabilidade de
sucessivos presidentes, ao preço do aparelhamento amplo da máquina pública.
Parte
desse aparelhamento se deu na Petrobras, como constatou a Lava Jato.
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O
desespero com a operação, o receio concreto de ser preso, levou Renan a abdicar
da cautela e embarcar na aventura doida com Cunha, interferindo em todos os
quadrantes do poder público com uma sucessão inédita de iniciativas
parlamentares.
Perdeu
a linha e a única legitimação para suas estripulias políticas: o bom senso na
manutenção da governabilidade.
Sua
tentativa de submeter a indicação de todos os diretores de estatais ao Senado
soa hipócrita, quando se sabe ser ele o pivô da maioria das articulações do
PMDB na máquina pública.
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Essa
pro atividade elétrica de ambos visa despertar uma série de interesses em
grupos de influência, de maneira a ganhar cacife para se contrapor às
investigações do MPF.
É
por aí que se entende a tentativa de desmanchar o precário federalismo
brasileiro, conquistando apoio de governadores e prefeitos para uma redivisão à
galega do bolo tributário.
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A
essa dupla se soma o protagonismo sem limites do Ministro Gilmar Mendes, do STF
(Supremo Tribunal Federal). A maneira como interfere nas decisões coletivas do
STF, sua desfaçatez em se pronunciar politicamente, o desrespeito a todos os
poderes, torna-o o terceiro ângulo desse triângulo das Bermudas que gerou o
vácuo institucional brasileiro.
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Os
exageros começam a produzir reações, inclusive de setores aliados incomodados
com essa marcha da insensatez.
Mas
caberá ao MPF e aos Ministros do STF dar um basta nesse caos institucional,
nessa falta de modos republicanos, na selvageria política que ameaça levar o
país de roldão.
Do
GGN por Luis
Nassif