Imagem de divulgação
Doutrinariamente,
a imprensa é vista como o instrumento de defesa da sociedade contra os esbirros
do poder, seja ele o Executivo, outro poder institucional ou econômico.
Não
se exija dos grupos de mídia a isenção. Desde os primórdios da democracia são
grupos empresariais com interesses próprios, com posições políticas nítidas,
explícitas ou sub-reptícias.
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Tome-se
o caso brasileiro. É óbvio que os grupos de mídia têm lado. Denunciam o lado
contrário e poupam os aliados.
Doutrinariamente,
procuradores entendem que qualquer denúncia da imprensa deve virar uma
representação. Mas só consideram imprensa o que sai na velha mídia.
Doutrinariamente, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) criou um grupo para
impedir o uso de ações judiciais para calar a mídia. Mas só consideram
jornalismo a velha mídia.
Cria-se,
então, um amplo território de impunidade para aqueles personagens que se aliam
aos interesses da velha mídia. E aí entra o papel da nova mídia, blogs e sites,
fazendo o contraponto e estendendo a fiscalização àqueles que são blindados
pela velha mídia.
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No
entanto, sem o respaldo do Judiciário, sem a estrutura econômica dos grupos de
mídia, blogs e sites independentes têm sido sufocados por uma avalanche de
ações visando calá-los. E grande parte delas sendo oriunda da mesma velha
mídia.
Quando
a velha mídia se vale dessas armas contra adversários, não entra na mira do
CNJ.
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Tome-se
o meu caso.
Sou
alvo de seis ações cíveis de jornalistas, cinco delas de jornalistas da Veja,
duas de não jornalistas. Os dois não jornalistas são os notáveis Gilmar Mendes,
Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) e Eduardo Cunha, presidente da
Câmara. Além deles, sofro uma ação de Ali Kamel, o todo poderoso diretor da
Globo.
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O
que pretendem me sufocando financeiramente com essas ações?
Desde
que se tornou personagem do jogo político, a Gilmar tudo foi permitido.
Em
meu blog já apontei conflitos de interesse – com ele julgando ações de
escritórios de advocacia em que sua mulher trabalha e de grandes grupos que
patrocinam eventos do IPD (Instituto Brasiliense de Direito Público).
Apontei
o inusitado do IDP conseguir um contrato de R$ 10 milhões para palestras para o
Tribunal de Justiça da Bahia no momento em que este se encontrava sob a mira do
CNJ. E critiquei a maneira como se valeu do pedido de vista para desrespeitar o
STF e seus colegas.
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De
Eduardo Cunha, é possível uma biografia ampla, desde os tempos em que fazia
dobradinha com Paulo César Faria, no governo Collor, passando por episódios
polêmicos no governo Garotinho e no próprio governo Lula.
No
governo Collor ele conseguiu o apoio da Globo abrindo espaço para os cabos da
Globo Cabo e dispondo-se a adquirir equipamentos da NEC (controlada por Roberto
Marinho). Agora, ganha blindagem prometendo impedir o avanço da regulação da
mídia.
Sobre
Kamel, relatei a maneira como avançou na guerra dos livros didáticos – um dos
episódios mais controvertidos da mídia nos últimos anos, quando editoras se
lançaram nesse mercado para ampliar seus negócios.
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Censurando
os críticos, asfixiando-os economicamente, quem conterá os abusos de Gilmar, de
Cunha e de Kamel?
Há
uma ameaça concreta à liberdade de imprensa nessa enxurrada de ações.
GGN - Luis Nassif