Durante
entrevista o governador do Maranhão abordou a mudança de postura na gestão do
estado e as áreas de atuação do governo.
Flávio Dino - Governador do Maranhão
Entre
reuniões que se sucedem, com secretários ou outros segmentos políticos e
empresariais no Palácio dos Leões, o governador Flávio Dino tirou uma hora, na
manhã de ontem, para falar a O Imparcial. Sem pauta determinada, ele discorreu
sobre os problemas encontrados no Maranhão e quais deles já têm solução
encaminhada e como projeta as novas etapas da gestão, depois dos 100 dias,
completados hoje.
Para
Flávio Dino, a mudança mais expressiva é a de postura da administração. “É a
precondição para que outras mudanças venham”. Citou a atitude em relação ao bem
público que administra, sobre o qual “a transparência e zelo são premissas
indispensáveis”. Sobre o momento político nacional, o governador do PCdoB
destaca como positivos o valor da pluralidade e a oposição, mas condena a
transformação disso em luta pela destruição do outro, “no ódio como método de
ação política”.
Um
dos temas mais espinhosos herdados por Flávio Dino é o caos instalado no
Complexo Penitenciário de Pedrinhas. Ele avalia que as falhas que têm ocorrido,
que levam, por exemplo, a sucessivas fugas e mortes, derivam na maioria das
vezes, não da falha de comando, mas da falha de execução das ações.
Reporter -
Daquelas propostas de mudança que o senhor pregou tanto na campanha e depois de
eleito, nesses 100 dias de governo, o que já pôde ser concretizado?
Flávio Dino -
Queria destacar, em primeiro lugar, a mudança de postura da administração. Esse
registro é muito importante porque se refere a uma premissa. É a precondição
para que outras mudanças venham. Me refiro à atitude em relação ao patrimônio
público, ao dinheiro público. Com ele, temos uma atitude de transparência e
zelo. Não há nenhuma acusação. Não há sequer indício, em nenhuma área do
governo, de ocorrência de desvio ou mau uso do dinheiro público. Temos uma
gestão honesta e responsável. O segundo conjunto de observações diz respeito a
resultados concretos, derivados dessa atitude e de outras medidas tomadas. São
as relativas às políticas sociais. Demos demonstrações de que agora a educação
é prioridade, não apenas retórica. Equacionamos o problema das progressões
salariais dos professores que se acumulavam há décadas.
O que é isso, didaticamente?
A
valorização dos professores. Por fim ao risco de greve. É uma questão
fundamental na medida em que o governo tem uma atitude de reconhecimento de
direitos. Estamos prevenindo interrupções do ano letivo como aconteceu em
outros momentos. Eu destacaria as progressões salariais, ou seja, promoções dos
professores. Onze mil deles foram beneficiados com isso. Aplicamos o reajuste
linear de 13% para todos os professores – mais de 20 mil. Prorrogamos cinco mil
contratos, temporariamente. Fizemos isso para garantir desde o primeiro dia do
ano letivo, professor em sala de aula. Contratamos mais mil, enquanto
preparamos o concurso. E uma medida que eu gostaria também de sublinhar na área
de educação: no dia 19 de junho, vamos ter a primeira consulta democrática dos diretores
de escola do maranhão. Significa dizer que os professores, os pais, os alunos e
os funcionários é que vão, junto conosco, partilhar a gestão da escola. Abri
mão de uma prerrogativa legal, de nomear os diretores de escola do Maranhão.
Estou partilhando isso com a comunidade escolar.
O que o senhor espera no curto
prazo da eleição direta de diretores de escolas?
Sobretudo,
que eles sejam comprometidos com a liderança do processo de transformação da
educação no Maranhão. Porque eles vão ser frutos do debate da comunidade. Eles
vão passar por um curso, apenas os aprovados no curso poderão concorrer na
consulta democrática. E aí eles vão ser submetidos à eleição. E os eleitos vão
fazer outro curso, outra prova e, se eles forem aprovados, terão, aí sim, a
investidura de diretor. Dobramos praticamente a remuneração dos diretores,
porque os estudos mostram que se você tem um diretor de escola, um
administrador comprometido com a melhoria daquela escola, os exemplos bons
aparecem.
Queria
destacar também as medidas alusivas à infraestrutura física educacional. Vamos
lançar hoje (ontem) o projeto relativo aos Institutos Estaduais de Educação
Profissional. Eles serão vinte no Maranhão. Já lançamos o edital do projeto
relativo à substituição das escolas de taipa. Cerca de 151 cidades maranhenses
se inscreveram. Em abril, estamos visitando todas essas escolas que os
prefeitos disseram que são de palhas. Nossa equipe vai olhar quantos alunos
têm, como funcionam, porque nós vamos dar essas escolas aos municípios e
avançarmos em outras temáticas da infraestrutura.
Do que encontrou no governo, que
caracterizaria como um entulho de tantos anos de domínio político, o que já foi
removido nesses três meses?
A
gente precisa entender que há coisas instantâneas e coisas que são processos.
Instantaneamente, o que nós fizemos, vou dar um exemplo. Transparência absoluta
dos gastos públicos. O portal da transparência do Maranhão filtrava 60% e só
40% dos gastos apareciam para o cidadão. Nós eliminamos isso. Isso é uma medida,
uma decisão para ser feita no curto prazo. Coisas desta natureza, gastos
abusivos de um modo geral com contratos terceirizados, no do Detran, por
exemplo; na Caema (Companhia de Saneamento do Maranhão) e mesmo no Palácio dos
Leões. Cortamos tudo. Na segurança pública, estamos atuando no cumprimento da
lei, eficácia e combate à impunidade. Em relação ao sistema penitenciário,
conseguimos reduzir o número de fugas. No primeiro trimestre de 2014, foram 34
fugas. No primeiro trimestre de 2015, 19. Ainda é alto? Claro que é, mas já
reduzimos. O número de mortes no sistema penitenciário. No primeiro trimestre
de 2014, foram 13. No primeiro trimestre de 2015, foram 4. reduzimos um terço.
É claro que quatro ainda é muito. Queremos zerar.
Qual o maior gargalo no sistema
penitenciário?
Hoje,
no caso do Maranhão, é o problema de terceirização. Herdamos um sistema em que
90% dos profissionais que trabalham dentro das penitenciárias foram
selecionados precariamente, mediante uma terceirização que visava garantir
lucros privados. O que nos desafia é exatamente conseguir fazer a transição que
estamos fazendo. Abrimos a seleção para os agentes e auxiliares penitenciários
que ficam conosco até a realização do concurso. São 900 vagas temporárias. A
seleção está em curso. E aí vamos ter recursos humanos mais adequados. As
falhas que têm ocorrido, que levam, por exemplo, a essas fugas, derivam na
maioria das vezes não da falha de comando, mas da falha de execução.
E não pode ser também
desentrosamento entre os setores que atuam no sistema?
Você
tem razão. Agora, sob minha coordenação, está ocorrendo uma reunião do Gabinete
de Gestão Integrada, que envolve o judiciário, o Ministério Público, a
Defensoria Pública, as forças armadas, a ABIN, a polícia civil, a polícia
militar, corpo de bombeiros. Ou seja, todo o sistema de justiça e segurança
pública se reúne agora mensalmente, com a minha direção e com minha presença,
para a gente poder romper essa marca de fragmentação que havia. É a busca de
ações compartilhadas que garantam maior eficácia da operação. Em relação ao
entulho, removemos muita coisa e estamos removendo o que me demanda tempo, como
essa questão da segurança.
Em
entrevista ao Programa Roda Viva, o senhor falou de uma situação burguesa que
tem 300 anos de defasagem no Maranhão, a qual emperra o processo democrático.
O que, de fato, agora, isso vai
mudar?
Gostaria
de destacar um tema que diz respeito à relação com o empresariado. Eu instalei,
em janeiro o conselho empresarial do Maranhão, que reúne, também com a minha
presença, as principais entidades do estado. Tenho recebido todos os dias
investidores privados que já atuam no Maranhão ou que querem atuar. A minha
agenda é aberta para eles. Quando eu falei dessa defasagem, era a partir da
compreensão de que nós precisamos democratizar o processo econômico, porque ele
estava hiperconcentrado em pequenos grupos.
Mas o senhor disse, no aniversário
do PCdoB, que o seu governo é comunista e é comandado por um comunista. Como se
dá o comando desse governo num processo capitalista?
O
que precisamos no nosso estado, hoje, é garantir a distribuição da riqueza.
Nesse sentido, o governante é, e sou de fato, um socialista, um comunista que
acredita na comunhão. Como vamos fazer isso? Vamos conseguir chegar a uma
distribuição mais justa da riqueza mediante geração de empregos, serviços
públicos, se conseguirmos ampliar a riqueza existente. A ampliação da riqueza
existente do Estado só pode vir de um caminho: a soma de investimentos públicos
com investimentos privados. Nenhum governo sozinho dá conta de gerar os
recursos necessários para melhoras as condições de vida do povo. É aí que se dá
essa combinação, entre um socialista que deseja aumentar a riqueza para com
isso propiciar mais oportunidades.
O senhor falou que tem conversado
bastante com investidores que podem vir ao estado. Mas e em relação às recentes
demissões na Alumar e o fechamento de empresas siderúrgicas na região de
Açailândia?
Essa
situação está muito relacionada à crise internacional. E não começou de agora.
A dificuldade das siderúrgicas já vem de muitos anos no Maranhão. Na verdade,
tivemos uma desativação crescente dos fornos das siderúrgicas há vários anos. A
alumar já tinha desativado 2/3 da sua produção de alumínio antes do nosso
governo. Eram três linhas de produção. Eles consideraram que preço do alumínio
caiu no mercado internacional, o da energia cresceu no Brasil e isso tornou
pouco competitivo o produto deles. Claro que lamento e deploro essa decisão da
Alcoa porque eles tiveram muitos incentivos do povo do Maranhão, da sociedade,
e acho que houve uma precipitação. Até um descaso em relação ao momento
econômico que o Brasil atravessa. Isso deriva muito dessa concepção de empresas
voltadas para o mercado externo, que é o grande problema da economia
maranhense.
E como será possível mudar esse
modelo?
Sobretudo,
invertendo a prioridade. A nossa prioridade hoje é agregação de valor a partir
das cadeias produtivas existentes no Maranhão. Como exemplo, temos o projeto
Salangô, abandonado há décadas. Vou lá dia 18 de abril anunciar o enorme
investimento do governo do estado para potencializar a produção de arroz do
Projeto Salangô, em São Mateus. Hoje produzimos metade do arroz que produzíamos
vinte anos atrás. A embaixadora de Cuba veio aqui e disse que queria comprar arroz
do Maranhão porque hoje Cuba compra do Rio Grande do Sul. Chamo o secretário de
Agricultura para vender arroz para Cuba e ele diz que o problema é que nós
também compramos arroz do Rio Grande do Sul. A matriz é invertida nesse
sentido, de nós pegarmos essas cadeias produtivas existente de grãos e criar um
dinamismo econômico para o Maranhão.
O programa 'Mais IDH' definiu os 30
municípios mais pobres, mas como ficam os demais que não estão nessa lista?
Temos
ações estratificadas a partir de objetivos. No caso da educação, vamos ter uma
ação dos Núcleos de Educação Integral, que irão atender os alunos com
atividades de esporte, cultura, de idiomas, laboratórios. Eles vão ser
implantados primeiro nas cidades maiores, porque vai atingir uma maior quantidade
de alunos. Temos as escolas de educação profissional, os Institutos
educacionais do Maranhão (Iemas), que complementam a rede de IFMA. Mas você tem
razão quanto a necessidade de graduar as ações, porque elas não podem ser
exclusivas nas trinta cidades mais pobres. Dou outro exemplo, o do asfalto.
Fizemos em Imperatriz, Caxias e Timon, porque são as maiores cidades do
Maranhão. E para São Luís vamos fazer o convênio com o prefeito Edvaldo nas
próximas semanas. Temos a preocupação de ir posicionando ações que garantam a
presença do governo de modo uniforme no território estadual.
Qual a participação do município no
programa 'Mais IDH'?
O
município é um articulador das ações, ele não vai precisar entrar com recursos.
Reunimos com os prefeitos, sindicatos e estamos finalizando o processo de
instalação dos comitês municipais. IDH é longevidade, educação e renda. Temos
doze ações que visam melhorar cada uma dessas coisas. Educação é a escola
digna, substituir as escolas de taipa e o combate ao analfabetismo.
Longevidade, força estadual de saúde que vai atuar na atenção básica. Água
também se inclui nisso. Segurança alimentar, vamos fazer restaurantes populares
nas trinta cidades. Renda, sobretudo a questão da agricultura familiar. Em cada
uma dessas cidades, vamos implantar ainda esse ano cem sistemas de produção
familiares.
Quando o senhor esteve com a
presidente Dilma, tratou desse assunto do IDH, em ação conjunta com o governo
federal?
Semana
passada, recebemos uma delegação do MDS, Ministério de Desenvolvimento Social,
que foi conosco a quatro cidades do 'Mais IDH' e verificar a situação relativa
à insegurança alimentar, que é a questão do bolsa família, de cestas básicas,
da própria montagem das cozinhas comunitárias que faremos junto com o MDS.
Quando conversei com a presidente Dilma, levei esse tema com uma ênfase muito
especial, porque acredito que o plano 'Mais IDH' também tem uma função
pedagógica. Vamos melhorar efetivamente a vida do povo dessas trinta cidades
normalmente abandonadas. É possível, mediante ação conjunta...
O Flávio Dino foi eleito em aliança
com o PSDB, e agora como se dará o alinhamento de seu governo com o da presidente
Dilma?
De
total parceria administrativa. Tenho, semanalmente, buscado ajuda do governo
federal, recebido atenção e cuidado aos nossos pleitos. Já estive três vezes
com a presidente Dilma nesse início de governo, apresentando projetos e ideias.
É natural que o governo federal infelizmente vive um momento de turbulência...
Qual a sua avaliação dessa situação
em que Dilma se encontra hoje diante do parlamento que praticamente criou um
sistema político híbrido, meio parlamentarista, com a presidente acuada e o
Congresso dando as cartas?
Essa
turbulência aguda que se vive hoje no Brasil, do ponto de vista de um estado
como o Maranhão, o que causa? Causa dificuldade de andamento de projetos. O
'Minha casa minha vida', para o Maranhão, para economia maranhense e para o
povo, enfrenta dificuldades no financiamento. O minha casa minha vida 3 ainda
não andou como gostaríamos. Essa ambiência política, do ponto de vista
administrativo, é indesejável. Sobre a questão politica, é preciso ter mais
diálogo entre as forças políticas. Exemplifico a partir do Maranhão, é verdade
que tivemos apoio do PSDB. Hoje governamos com PSDB e com o PT. Quem conduz a
política social do nosso governo é um dirigente do PSDB e um do PT. É o Neto
Evangelista, secretário do Desenvolvimento Social, e o professor Chico
Gonçalves, do PT, secretário de Direitos Humanos e Participação Popular. No
plano nacional há muita sectarização de posições, e experiências como a do
Maranhão, mostram que é possível, mediante o diálogo, fazer as coisas
avançarem.
O senhor acha que a oposição está
muito sectária em relação ao governo?
É
um momento econômico complicado que levou a uma continuidade do clima do
segundo turno da eleição e que acaba levando a uma polarização política rara
para o Brasil, eu diria inusitada nesse nível. O que imagino e desejo é que
isso seja algo transitório. A pluralidade é saudável, a existência da oposição
é boa, a questão é quando você transforma isso na luta pela destruição do
outro, no ódio do método de ação política. Isso deve ser superado em todas as
forças políticas, é preciso ter um clima de mais entendimento.
Especula-se em São Luís um suposto
estremecimento na relação sua com o governo municipal do Edivaldo Júnior. De
verdade, como é que está essa relação?
Não
há estremecimento nenhum. Pelo contrário, a gente tem focado sempre naquilo que
cabe a cada esfera. É natural que vez por outra surjam diferenças de abordagem
em relação a problemas que têm que levar a algum tipo de pactuação, como nessa
questão recente das tarifas de ônibus. A prefeitura tomou uma decisão, nós
consideramos que essa decisão não era a melhor naquele momento. Chamamos os
empresários e a própria prefeitura para um diálogo e juntos encontramos a
solução. Com a participação do governo do estado, reduzindo a alíquota do ICMS
do combustível dos ônibus de 7% para 2%. Isso permitiu que a prefeitura pudesse
fazer a redução de R$0,20 da tarifa.
O senhor como político, como
governador, como já está vendo o cenário de 2016 para as eleições municipais?
Em
relação a isso, tenho optado por não ver. Acho que há tempo para tudo debaixo
do céu e acho que há um exaurimento da sociedade em relação à repetição de
eleições, como se isso fosse um processo eterno. No mais, fui eleito para
governar e não para ficar disputando eleição.
Sobre a redução da alíquota do
ICMS, quando o senhor assumiu disse haver um rombo nas finanças do Estado, o
Maranhão tinha como fazer essa redução do imposto?
Não
apenas tinha como tem o rombo. Recebemos R$ 1,3 bi em dívida e R$ 24 mi em
caixa. O que estamos fazendo é redirecionar gastos. Evidentemente sempre sobre
pressão das urgências, me refiro, por exemplo, à temática dos precatórios.
Recebemos quase R$ 800 milhões atrasados. Pagamentos de créditos fiscais de
empresas também estão atrasados. O que estamos tentando ainda é o que se refere
aos servidores, aos prestadores de serviço de um modo geral, e aos fornecedores
de insumos emergenciais, sobretudo na área de saúde. Só aí pegamos R$ 184 mi de
dívidas e estamos praticamente zerados. Em maio, vamos fazer a retomada dos
pagamentos dos precatórios que estavam interrompidos há mais de três anos. O
Estado não paga nada de precatório, a não ser o precatório do Alberto Yousseff,
da Constran.
Tenho dados do IMESC sobre o
crescimento do PIB maranhense de 2009 a 2014. O PIB passou de R$ 39 bi, em
2009, para R$ 45 bi, em 2010, para R$ 52 bi, em 2011, e chegaria a R$ 67 bi em
2012. Esses dados são reais?
Sim,
a economia do nordeste, de um modo geral, cresceu muito nos últimos anos. O
dobro ou o triplo da média nacional, porque houve a soma de políticas sociais,
como o bolsa família e aumento do salário mínimo, investimento na agricultura
familiar, com investimentos privados em peso no Maranhão. Por exemplo, a Suzano
é um investimento importante, um terminal de grãos, Porto do Itaqui, coisas que
vêm de dez anos, inclusive. Uma luta que começou no governo Zé Reinaldo, no
governo Jackson, ultrapassou o governo da Roseana e finalmente estamos, depois
de uma década, colhendo os resultados.
Há
uma relação direta do PIB com o IDH, principalmente na região do nordeste.
Por
isso que temos dois desafios. O desafio do crescimento da riqueza e do modo
como essa riqueza é aplicada, hoje nosso enfoque principal. Estamos lutando
para manter a trajetória de continuidade da riqueza, apesar desse ambiente
hostil a nível nacional. Se o PIB parar de crescer, em algum momento vai se
esgotar o processo de distribuição, de extensão dos serviços públicos, etc. Por
isso que o Brasil precisa desesperadamente sair desse impasse. A Petrobras é
desde os anos 50, o motor de desenvolvimento do Brasil junto com a indústria
automobilística. É um bloco complexo que impulsionou a economia brasileira
desde os anos 50. Na medida em que ele atravessa essa crise de credibilidade e
de desinvestimento, isso impacta a economia brasileira e a maranhense, por
conseguinte. O exemplo mais próximo é a desativação temporária da refinaria de
Bacabeira.
Essa desativação é temporária ou
definitiva?
Acrescentaria a isso que hoje saiu uma notícia
nacional que a presidente Dilma cancelou o contrato com a Ucrânia em relação ao
projeto de Alcântara, o Cyclone.
Esse
contrato com a Alcântara Cyclone Space, a binacional com a Ucrânia, já está
paralisado há quatro ou cinco anos. Isso foi feito no primeiro governo do
presidente Lula. Concretamente o Brasil parou de fazer um investimento na base
e parou também de fazer o repasse para a binacional. Dialoguei com a presidente
Dilma sobre isto e com o ministro Aldo Rebelo. Eles se basearam num estudo
técnico feito pela Agência Espacial Brasileira, que sustenta que hoje há uma
defasagem tecnológica da Ucrânia e que esse projeto, quando concluído, não
atenderia o objetivo brasileiro de ter um veículo lançador de satélites. Sobre
a refinaria, tenho absoluta convicção de que é algo temporário. Em algum
momento, o Brasil vai precisar aumentar sua capacidade de refino, porque o
pré-sal é uma realidade. Obviamente para o Brasil é muito melhor, em se
transformando em um grande produtor de petróleo, exportar produtos que tenham
agregação de valor. Estamos buscando alternativas com a Petrobras para, quando
a Petrobras sair da crise, o investimento seja retomado.
Ontem mesmo o diretor de
abastecimento esteve na audiência da comissão externa da Câmara dos Deputados
falando que a questão econômica impedia a manutenção do projeto. A política da
Petrobras pode mudar ou a Lei do Petróleo tem que ser rediscutida?
A
política da Petrobras vai mudar, tenho absoluta certeza. Passado o período de
aprovação do balanço, de realização das perdas por causa desse lamentavel
escândalo de corrupção que resbalou inclusive no Maranhão, no governo passado.
Precisamos de uma Petrobras ativa investindo no País. Passado esse momento, que
espero que seja breve, com certeza o Maranhão, como disse, tem todas as
condições de voltar a desejar a refinaria. Dessa vez, com seriedade. Sem
propina e também sem mentiras, sem falsas expectativas. Retomei agora o projeto
da refinaria, que deu origem a tudo isso, feito no governo Zé Reinaldo. Em
2004, foi feito um projeto de refinaria de menor porte e esse projeto depois de
anos e anos se transformou na Refinaria Premium.
Quando assumiu, deve ter sentido um
impacto muito grande no conjunto da obra que é o governo. Hoje, o senhor está
mais otimista em relação ao que viu?
Sempre
sou otimista. Sempre tenho a perspectiva transformadora, de que é possível
fazer. O otimismo não é ingênuo, ele é baseado em fatos. Em 100 dias fizemos
mais do que todos os governos anteriores, como o da governadora Roseana, em cem
dias. Temos indicadores melhores em tudo, na gestão fiscal, na arrecadação
tributária, gastos em educação, avanços na saúde e segurança, redução de
indicadores de violência. Há quem pense por aí que nosso governo tem quatro
anos ou três anos, mas faço questão de lembrar que tem cem dias apenas.
E como está a relação do governo
com a bancada maranhense do Congresso Nacional?
Conversamos
quase que diariamente com a bancada porque temos sempre temas no Congresso que
dizem respeito aos estados que têm menos força econômica. Essa sinergia tem
resultado em ganhos, tivemos uma grande conquista na área da saúde no que diz
respeito ao repasse do teto per capita da saúde, tivemos aumento de 88 milhões
para 2015.
A nível nacional, o orçamento impositivo foi
aprovado, mas enfrenta alguma dificuldade na Assembleia Legislativa. Qual o
posicionamento do governo em relação a isso?
Sempre
tenho frisado que esse é um assunto da Assembleia, porque envolve uma mudança
constitucional que compete ao parlamento decidir. O que temos deixado claro é
que sempre vamos dialogar com os deputados. Acho que no caso federal é preciso
passar um tempo para ver como vai se dar isso na prática
O senhor acredita que a matéria foi
aprovada em Brasília devido ao posicionamento do Eduardo Cunha?
Sobretudo
por uma conjetura política. Há um desejo de implantar um monstro no Brasil, que
é o regime presidencialista em que a responsabilidade principal é do Poder Executivo,
mas ao mesmo tempo ele age sob muitos constrangimentos derivados da atuação do
legislativo e do judiciário. É impossível dar certo um hibridismo dessa
natureza em que você não sabe ao certo quem comanda o jogo institucional. Em
algum momento, isso vai ter que resultar ou num pacto político para que as
instituições voltem a funcionar em outros termos ou em mudanças constitucionais
para que adequem as normas aos objetivos das forças políticas.
Sairia disso o bojo de uma reforma
política?
Hoje
é muito difícil fazer uma reforma política produtiva exatamente por conta do
ambiente. Há uma pré-condição para que tenhamos uma boa reforma, realmente um
desarmar de espíritos. Neste caso da reforma política, assim como da maioridade
penal, a atitude mais sábia seria deixar isso para um momento melhor, menos
contaminado pelo debate político para ter uma decisão mais racional sob pena de
termos decisões que se revelem um enorme e irreversível desastre. Porque, como
o grande Cazuza cantou, “o tempo não para”.
Do Imparcial
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